Os dias se passavam sem que Ruan Giovani Alves, de 8 anos, aprendesse a ler e escrever. Só conseguiu quando uma professora generosa resolveu escrever exercícios no caderno dele e ensiná-lo as letras, sem permitir que ele deixasse de freqüentar as aulas com alunos da sua idade. Essa lição da professora Maria Cunha de Ardana e outros bons exemplos levaram a Escola Estadual Necésio Tavares, do Bairro Alto Vera Cruz, na Região Leste de Belo Horizonte, a entrar na lista das melhores da capital classificadas no Programa de Avaliação da Alfabetização (Proalfa), divulgada quarta-feira. Na rede estadual de ensino, a situação avançou: 72,5% dos alunos com oito anos matriculados no 3º ano do ensino fundamental sabem ler e escrever, contra 48,7% em 2006. Dos 27,5 que ainda têm dificuldade, 13,8% estão na classificação mais baixa: lêem apenas palavras soltas e não conseguem entender a frase.
A Escola Estadual Dr. Ovídio de Andrade, em Ipatinga, no Vale do Aço, é a primeira colocada entre as 2.450 avaliadas, com 719,93 pontos de proficiência em uma tabela com média de 500 e máximo de
Para tentar melhorar os índices, a secretaria mantém 200 especialistas para ajudar as escolas a montar estratégias. O Proalfa tem informações de todos os municípios, todas as escolas e cada aluno. Recursos para reformas físicas também são liberados, segundo ela, principalmente para escolas do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha. A classificação no exame acompanha a pobreza das regiões do estado. Das 46 superintendências de educação, a de Pirapora, no Vale do São Francisco, está na lanterna. As melhores colocadas são a de Monte Carmelo, no Alto Paranaíba, que lidera a lista da rede estadual, e a de São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas, primeira colocada entre os avaliados de escolas municipais. A secretária admite que as classes iniciais estavam fora do foco do governo. “Não apenas em Minas, mas no país todo foram criados modelos e houve o afrouxamento do sistema que permitiu formar crianças que não sabiam ler.”
Bom exemplo
Não foram recursos nem facilidades que levaram a escola Necésio Tavares a ocupar a boa posição em BH, com 654,85 pontos de proficiência. Depois de conversas com a equipe e de comprovar que havia jovens de até 14 anos que não conseguiam compreender frases, a diretora Marli do Carmo de Melo resolveu mudar. Tomou coragem para fazer um levantamento com a opinião dos pais sobre a administração, abriu as portas da escola para eles, instituiu encontros festivos para confraternização dos professores e reativou a biblioteca com empréstimos estendidos à comunidade.
Mensalmente, ela aplica um simulado aos alunos, instrumento usado para reavaliação. “Mas o melhor mesmo é ter amor por isto aqui, saber ouvir críticas e dividir tudo com a equipe”, diz, revelando o segredo para manter boa qualidade no ensino de 668 alunos (100 deles em horário integral) em uma área pobre e com poucos recursos. Recompensa que pode ser percebida no desenvolvimento do pequeno Ruan. “Gosto de animais e não falto à escola”, resume o menino curioso, que tem um tempo diferente dos outros, mas consegue ler um texto de seis frases.
Fonte: Estado de Minas
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