sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

ALFABETIZAR E LETRAR: REFLEXÕES COM BASE NO MÉTODO FÔNICO

(Resumo da Equipe)

São discutidos nessa matéria aspectos relativos aos processos de aprendizagem e ensino relativos à leitura e escrita, a luz da perspectiva metodológica fônica. Essa perspectiva defende o trabalho sobre os segmentos da fala e as relações entre fonemas e os grafemas.
Os autores defendem as especificidades do processo de alfabetização, mas não dissocia do processo de letramento. Já que a entrada da criança ou do adulto não alfabetizado no mundo da escrita, acontece simultaneamente por meio desses dois processos: a aquisição do sistema convencional da escrita (a alfabetização) e o desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem o texto escrito (o letramento). Ler e escrever implicam a vinculação de habilidades auditivas, fonadoras e visuais com a coordenação motora fina.
A proposta metodológica fônica trata justamente da intervenção naquilo que é especifico ao desenvolvimento da leitura e da escrita iniciais: o manuseio, a manipulação e a criação por meio do conhecimento das relações das unidades básicas do nosso sistema de representação escrita. O método fônico propõe um trabalho planejado e sistemático com as relações fonológico-grafêmica, bem como com as habilidades cognitivas subjacentes ao estabelecimento dessas relações, isto é, a consciência fonológica.
É importante considerar que a leitura é condição pra se escrever. Assim como não se fala sem escutar, não se escreve sem ler. Embora se estabeleça relativa anterioridade da leitura em relação à escrita, elas podem ser desenvolvidas quase concomitantemente, desde que se explorem as especificidades de cada um desses processos.
Por fim, cabe salientar que de acordo com o método fônico, não se recomenda usar os nomes das letras para ensinar a ler e a escrever. Os nomes que as letras têm não possuem relação com a maneira como elas devem ser lidas no contexto da produção escrita.
Aprender a decodificar e codificar é apenas um dos passos no processo de aprendizagem e desenvolvimento da leitura e escrita. Entretanto, trata-se de uma etapa essencial, sem a qual o nível de letramento do individuo não pode ser aprimorado continuamente.

Fonte:PRESENÇA PEDAGOGICA. V.15. Nº89. SET/OUT. 2009
Matéria original de: ANA CLAUDIA DE SOUZA E CASSIO RODRIGUES

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Video sobre Alfabetização e Letramento

Confira no link: http://www.youtube.com/watch?v=asS512CgmNo
Como definir a idade de entrada no
ensino fundamental de 9 anos?


Ao tomar conhecimento da obrigatoriedade da matrí-
cula aos 6 anos de idade, Toledo, um dos oito municípios
do Paraná com Sistema Municipal de Ensino organizado,
constituiu uma Comissão Mista, com participação de
diversos setores, para levar ao Conselho Municipal de
Educação (CME) as conclusões sobre as implicações da
nova legislação na educação escolar. O relatório com
os resultados desses estudos foi encaminhado ao CME/
Toledo e, depois de analisado, foi traduzido em normas
para a implantação da matrícula obrigatória aos 6 anos, no Sistema
Ildo Bombardelli é secretário de educação do município de Toledo (PR).
Municipal de Ensino local. A Deliberação mantinha, como anteriormente,
o "corte etário": matrícula no 1o ano das crianças que completassem 6
anos até 1o de março.
No entanto, o município e o CME, assim como todo o estado do Paraná,
foram surpreendidos por uma liminar da ação civil pública, requerida
pelo Ministério Público do Paraná, determinando que todas as crianças
que completam 6 anos durante o ano letivo têm o direito de ingresso
no 1o ano. Novas normas tiveram que ser definidas pelo CME com o
objetivo de atender às determinações judiciais.
Com a implantação dessa nova medida, surgem questões que desa-
fiam pais e educadores. O trabalho coordenado pela Secretaria Municipal
da Educação e pelo CME de Toledo procurou dar o enfoque adequado
para que o processo ensino-aprendizagem ocorresse da melhor forma
possível.
Buscou-se, então, adequar o atendimento pedagógico e as propostas
metodológicas às novas condições. O intenso trabalho de formação
continuada desenvolvido com todos os servidores da educação teve, no
primeiro ano, resultados animadores em termos de aprendizagem.
Apesar dos problemas, os trabalhos da Secretaria da Educação e
do CME de Toledo resultaram em propostas adequadas para o atendi-
mento das crianças. A prática, por ser recente, deve ser observada e
avaliada com atenção. O ponto positivo dessa história é a participação
e o envolvimento de todos na discussão sobre o processo educacional.

no 18/2005 da Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação que estabelece que o futuro aluno
tenha 6 anos completos ou que faça aniversário no mês de
início das aulas. Para a implantação dessa medida, o município
vem estudando, juntamente com a comissão de implantação
e representantes dos vários segmentos escolares, o docu-
mento do MEC, que contém textos de orientação pedagógica
e artigos com uma defesa conceitual sobre a infância de hoje
e diversos outros temas.
Quando adotamos essa data de corte (30/03), levamos em conta que
algumas especificidades relativas à infância precisam ser respeitadas, haja
vista que, se não adotássemos essa medida, iríamos receber, num mesmo
espaço, crianças com diferentes graus de interesse e maturidade. Com
isso, além de assegurar o desenvolvimento cognitivo da criança, ela passa
a conviver mais cedo com outras da mesma idade, favorecendo que, no
processo de conhecimento, compartilhem, de modo mais equilibrado, suas
potencialidades, sua percepção e domínio de informações. Além disso, em
termos organizacionais, todas as escolas possuirão parâmetros comuns.
Entendemos que são três os fatores fundamentais para garantir o
sucesso dessa passagem: adequação da estrutura física, formação dos
professores que vão assumir as turmas de 6 anos e montagem de uma
proposta pedagógica clara e consistente. Isso envolve questões de ordem
pedagógica, como rever currículos, formar professores, reformular os
espaços físicos e adaptar os sistemas de avaliação.
Acreditamos que a educação brasileira só tem a ganhar com o Ensino
Fundamental de 9 anos. Essa mudança veio para qualificar a educação, por
permitir que as crianças, por ingressarem aos 6 anos no ensino fundamental,
permaneçam na escola por mais tempo e tenham mais oportunidades socio-
culturais pelo convívio com maior número de pessoas. Ao se estender o tempo
de estudo, consequentemente, amplia-se as possibilidades de aquisição de
conhecimentos.

Fonte: Jornal letra A Belo Horizonte, março/abril de 2009 - Ano 5 - n° 17

Matéria da Revista Nova Escola

REVISTA NOVA ESCOLA:

A revista Nova Escola n°226, de outubro de 2009 aborda na matéria Hora de aperfeiçoar nas páginas 90 à 92, as diferentes revisões que um texto deve passar, e os beneficios que isso pode gerar para os alunos.
A prática de correção dos textos dos alunos feita pelo professor, que antes era somente uma busca aos erros ortográficos e de pontuação, vem sendo gradativamente mudada pelos professores que sabem da importância de desenvolver nos alunos a capacidade de um processo de revisão mais elaborado

Aspectos que devem ser trabalhos pelo professor em sala de aula:
● Na hora de contar uma história deve-se buscar a clareza e coerência, direcionando para os pontos que colaboram com os aspectos discursivos.
● A revisão do texto não pode ser uma etapa final da produção.
● O aluno deve fazer uma leitura crítica do próprio material com ajuda do professor.
● Para o aprimoramento do texto é necessário que os alunos trabalhem em grupos, em duplas e individualmente.

Dicas de site sobre revisão de texto:
www.ne.org.br

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Por dentro da alfabetização

15/10 - 12:33
Agência Fapesp

SÃO PAULO – Um estudo feito com ex-guerrilheiros está ajudando a ciência a compreender melhor as regiões do cérebro envolvidas no processo de alfabetização. O trabalho, feito por pesquisadores da Colômbia, Espanha e Reino Unido, revela como a estrutura do cérebro se altera após a aprendizagem da leitura.

A linguagem é uma capacidade unicamente humana que surgiu em algum momento durante os 6 milhões de anos desde que o homem e o chimpanzé divergiram. Mesmo sem ser ensinadas ou na ausência de adultos para tomar como base, crianças desenvolvem sistemas linguísticos sofisticados. Mas a leitura é uma habilidade que se aprende e que não se desenvolve sem ensino e prática.

Compreender como as estruturas cerebrais mudam quando se aprende a ler tem se mostrado muito difícil à medida que a maior parte das pessoas é alfabetizada quando criança, no mesmo período em que aprendem muitas outras habilidades.

Por conta disso, os cientistas enfrentam muita dificuldade em separar as alterações promovidas pelo processo de alfabetização das relacionadas ao aprender a jogar bola ou tocar um instrumento, por exemplo.

O novo estudo, publicado na edição desta quinta-feira (15/10) da revista Nature, superou essas dificuldades ao encarar uma situação incomum: a possibilidade de analisar ex-integrantes de guerrilhas colombianas que estão se reintegrando na sociedade e aprendendo a ler pela primeira vez já adultos.

“Separar mudanças em nossos cérebros causadas pela alfabetização até agora tinha se mostrado impossível por conta de outros fatores. Poder trabalhar com esses ex-guerrilheiros é uma oportunidade única de ver como o cérebro se desenvolve quando a capacidade de ler é adquirida”, disse Cathy Price, da University College London, uma das autoras da pesquisa.

Os autores analisaram imagens feitas por ressonância magnética do cérebro de 20 ex-guerrilheiros que completaram um programa de alfabetização em espanhol. As imagens foram comparadas com as de 22 outros ex-guerrilheiros que não haviam iniciado o programa.

Os resultados revelaram as áreas do cérebro envolvidas no processo de alfabetização. Os autores analisaram também como essas regiões estão conectadas em adultos que aprenderam a ler normalmente, durante a infância.

Os pesquisadores observaram que para quem aprendeu a ler, tanto como adulto como quando criança, a densidade de massa cinzenta (onde ocorre o “processamento” cerebral) é maior em diversas áreas do hemisfério esquerdo do cérebro.

Essas áreas são responsáveis pelo reconhecimento das formas das letras e por traduzir as mesmas em sons e em significados. Ler também aumenta a intensidade das conexões de massa branca (constituída pelas fibras que interligam os neurônios) entre diferentes regiões no cérebro.

O estudo destaca que especialmente importantes são as conexões em uma área conhecida como giro angular. Cientistas sabem há mais de 150 anos que essa região do cérebro é importante para a leitura, mas o novo estudo mostra que seu papel não havia sido corretamente entendido.

Até então, achava-se que o giro angular reconhecia as formas das palavras antes de associar seus sons e significados. O novo estudo mostra que o giro angular não está envolvido diretamente na tradução de palavras visuais em sons e significados. Em vez disso, ele apoia esse processo ao fornecer previsões do que o cérebro espera ver.

“A visão tradicional tem sido a de que o giro angular atua como uma espécie de dicionário que traduz as letras de uma palavra em um significado. Na realidade, mostramos que seu papel é mais uma antecipação do que nosso olho vai ver. É algo parecido com a função de sugestão de texto dos telefones celulares na hora de digitar mensagens”, disse Cathy.

Segundo os cientistas, os resultados do estudo deverão ter importantes implicações na investigação das causas de problemas como a dislexia. Estudos com indivíduos disléxicos apontaram áreas de redução nas massas branca e cinzenta em regiões que cresceram após a alfabetização. O novo estudo sugere que algumas das diferenças verificadas em casos de dislexia podem ser consequência – e não causa – de problemas de leitura.

Programa revela avanços da alfabetização em Minas

Os dias se passavam sem que Ruan Giovani Alves, de 8 anos, aprendesse a ler e escrever. Só conseguiu quando uma professora generosa resolveu escrever exercícios no caderno dele e ensiná-lo as letras, sem permitir que ele deixasse de freqüentar as aulas com alunos da sua idade. Essa lição da professora Maria Cunha de Ardana e outros bons exemplos levaram a Escola Estadual Necésio Tavares, do Bairro Alto Vera Cruz, na Região Leste de Belo Horizonte, a entrar na lista das melhores da capital classificadas no Programa de Avaliação da Alfabetização (Proalfa), divulgada quarta-feira. Na rede estadual de ensino, a situação avançou: 72,5% dos alunos com oito anos matriculados no 3º ano do ensino fundamental sabem ler e escrever, contra 48,7% em 2006. Dos 27,5 que ainda têm dificuldade, 13,8% estão na classificação mais baixa: lêem apenas palavras soltas e não conseguem entender a frase.

A Escola Estadual Dr. Ovídio de Andrade, em Ipatinga, no Vale do Aço, é a primeira colocada entre as 2.450 avaliadas, com 719,93 pontos de proficiência em uma tabela com média de 500 e máximo de 800. A meta da Secretaria Estadual de Educação é acabar com a categoria de pior colocação até 2010 e chegar a 89% de crianças lendo e escrevendo segundo critérios recomendáveis para a idade. Para a secretária estadual, Vanessa Guimarães, é preciso comemorar os avanços de 2006 para cá, quando o resultado começou a ser medido no mesmo padrão. O aumento do percentual de alunos de escolas estaduais que mostram conhecimento recomendável é estímulo para a busca de avanço maior. “Já foi uma vitória e sabemos que, ao propor meta para melhorar, estamos nos lançando diante de uma aventura que vai exigir de todos um esforço grande.” Entre os alunos da rede municipal, os que tiveram desempenho recomendável foram 57%. Apesar de estar abaixo da média estadual, houve melhoria com relação aos 42,7% de 2006.

Para tentar melhorar os índices, a secretaria mantém 200 especialistas para ajudar as escolas a montar estratégias. O Proalfa tem informações de todos os municípios, todas as escolas e cada aluno. Recursos para reformas físicas também são liberados, segundo ela, principalmente para escolas do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha. A classificação no exame acompanha a pobreza das regiões do estado. Das 46 superintendências de educação, a de Pirapora, no Vale do São Francisco, está na lanterna. As melhores colocadas são a de Monte Carmelo, no Alto Paranaíba, que lidera a lista da rede estadual, e a de São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas, primeira colocada entre os avaliados de escolas municipais. A secretária admite que as classes iniciais estavam fora do foco do governo. “Não apenas em Minas, mas no país todo foram criados modelos e houve o afrouxamento do sistema que permitiu formar crianças que não sabiam ler.”

Bom exemplo

Não foram recursos nem facilidades que levaram a escola Necésio Tavares a ocupar a boa posição em BH, com 654,85 pontos de proficiência. Depois de conversas com a equipe e de comprovar que havia jovens de até 14 anos que não conseguiam compreender frases, a diretora Marli do Carmo de Melo resolveu mudar. Tomou coragem para fazer um levantamento com a opinião dos pais sobre a administração, abriu as portas da escola para eles, instituiu encontros festivos para confraternização dos professores e reativou a biblioteca com empréstimos estendidos à comunidade.

Mensalmente, ela aplica um simulado aos alunos, instrumento usado para reavaliação. “Mas o melhor mesmo é ter amor por isto aqui, saber ouvir críticas e dividir tudo com a equipe”, diz, revelando o segredo para manter boa qualidade no ensino de 668 alunos (100 deles em horário integral) em uma área pobre e com poucos recursos. Recompensa que pode ser percebida no desenvolvimento do pequeno Ruan. “Gosto de animais e não falto à escola”, resume o menino curioso, que tem um tempo diferente dos outros, mas consegue ler um texto de seis frases.


Fonte: Estado de Minas

Videos sobre Alfabetização e letramento

Estes são links de vídeos bem interessantes sobre Alfabetização e Letramento confiram...


http://www.youtube.com/watch?v=asS512CgmNo

http://www.youtube.com/watch?v=zwri7pO8UHU&feature=related

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Debate sobre o uso da Internet

19/11/2009 - 08h34

Com vídeo à frente, tráfego na web deve crescer seis vezes até 2012

da Folha Online

O tráfego na internet vai aumentar seis vezes até 2012 em relação a um período de cinco anos, devido ao aumento na visualização e na postagem de vídeos on-line. A previsão foi dada em um fórum sobre internet na quarta-feira (18).

De 2007 a 2012, "o tráfego irá crescer em sêxtuplo", disse o vice-presidente da Cisco durante o Internet Governance Forum (IGF, na sigla em inglês), que ocorre no Egito durante esta semana.

Tráfego na internet vai aumentar seis vezes até 2012 em relação a um período de cinco anos, devido ao uso de vídeos on-line
Tráfego na internet vai aumentar seis vezes até 2012 em relação a um período de cinco anos, devido ao uso maior de vídeos on-line

"[O tráfego] está crescendo 46% ao ano, e [o crescimento] é conduzido pelo vídeo", disse. "O vídeo é o condutor. Não há questões a se fazer sobre isso."

O vídeo supera barreiras de linguagem, conteúdo local e alfabetização, diz ele, enquanto usuários interagem mais facilmente com a internet.

O fórum no Egito reúne mais de 1.500 representantes do governo, sociedade civil, ONGs e setor privado de mais de cem países, com o intuito de discutir o futuro da internet.

Nós perguntamos: Você faria uso da internet com turmas em processo de alfabetização?

Livro sobre Alfabetização Infantil

12/11/2009 - 08h15
Processo da alfabetização infantil é tema de livro e debate
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da Folha Online


Acontece nesta quinta-feira (12), o lançamento do livro "Emilia Ferreiro: Uma Concepção do Desenvolvimento da Escrita e da Criança" (Ed. Vozes,2009). Na ocasião, haverá ainda um debate com a autora do livro, Marilia Claret Geraes Duran. O evento acontece a partir das 18h na Livraria Cortez.

A obra traz uma discussão dos estudos da psicóloga argentina Emilia Ferreiro, uma das mais importantes pesquisadoras dos processos de aquisição da língua escrita pelas crianças, com ênfase na produção de textos escritos de maneira autônoma.

As ideias de Emília Ferreiro revolucionaram a pedagogia porque desviou o enfoque do "como se ensina" para o "como se aprende", colocando a escrita como objeto sócio-cultural de conhecimento e tirando da escola o monopólio da alfabetização. A partir de então o professor passou a perceber que o que a criança pensa da escrita também influencia na aprendizagem. Desta forma, caiu por terra a crença de que a alfabetização começava e acabava entre as quatro paredes da sala de aula e que a aprendizagem do aluno dependia tão somente da aplicação correta de um método de como se deve ensinar a ler e a escrever.

O livro "Emilia Ferreiro" trata do início da aquisição da língua escrita, segundo uma perspectiva psicolingüística e cognitiva, onde a criança vai descobrindo as propriedades da escrita através de um processo construtivo e o desenvolvimento desta aprendizagem varia de criança para crian

Ensino de nove anos

08/11/2009 - 09h45
Ensino fundamental de nove anos sacrifica lazer, dizem estudos
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RICARDO WESTIN
da Folha de S.Paulo

Das escolas que já adotaram o ensino fundamental de nove anos, parte fez a adaptação impondo pesados sacrifícios às crianças mais novas.

Pesquisas em diferentes Estados mostram que nessas escolas os alunos de seis anos perderam parte considerável do tempo destinado a brincadeiras e atividades ao ar livre. Agora ficam debruçadas sobre livros, exercícios e até provas.

Especialistas alertam que isso pode ter efeito devastador no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças.

As escolas hoje dividem o ensino fundamental em oito séries. No ano que vem, todas --públicas e particulares-- deverão seguir a lei que prevê a reorganização em nove anos.

O ano extra foi colocado no início do ciclo. A criança passará a entrar no ensino fundamental com seis anos, não mais com sete. Assim, quem ia para a pré-escola irá para o primeiro ano. A primeira série se transformará no segundo ano.

Muitas escolas se adiantaram e já seguem a lei. O problema é que algumas limitaram-se a impor às crianças de seis anos os mesmíssimos conteúdos que antes ensinavam às crianças de sete. Os esforços se concentram em ensiná-las a ler, escrever e fazer contas. As brincadeiras, comuns na velha pré-escola, ficaram em segundo plano.

As professoras e pesquisadoras Iraíde Marques de Freitas Barreiro (da Unesp em Assis), Maria Silvia Librandi da Rocha (da PUC de Campinas) e Catarina Moro (da UFPR em Curitiba) chegaram a conclusões parecidas ao estudar escolas que já adotam o novo modelo.

"As atividades lúdicas ficaram restritas ao recreio, que não raramente dura 15 minutos", diz Maria Silvia. "A criança tem seis anos, mas já é tratada quase como adulto, com muita cobrança", afirma Iraíde.

Um dos problemas é o fato de os professores não terem sido preparados para conduzir essa nova turma. Seguem mais o modelo da primeira série que o da pré-escola, sem o devido equilíbrio, por pressão de pais que desejam a alfabetização precoce e por pressão do sistema educacional --a Provinha Brasil avalia crianças de sete anos, do novo segundo ano.

"Antes era o professor da segunda série que cobrava o da primeira para que os alunos chegassem alfabetizados. Agora é o professor do segundo ano que pressiona o do primeiro", afirma Catarina, da UFPR.

O MEC confirma a falha dos colégios. "Estamos oferecendo orientações, explicando que o brincar é importantíssimo", diz a secretária de Educação Básica, Maria do Pilar Lacerda.

Ela esclarece que o resultado da Provinha Brasil não é divulgado e, mesmo sendo negativo, não gera punições. Serve apenas para orientar a escola.

Outro problema apontado pelas pesquisadoras é a falta de adaptações e reformas nas escolas para receber adequadamente às crianças de seis anos.

fonte: Folha online

Entrevista Anne-Marie Chartier

Ano VI - Nº 20 - Oralidade, alfabetização e letramento - Julho
Entrevista
Anne-Marie Chartier
Para a francesa Anne-Marie Chartier, alfabetizar é um ofício que, mais do que uma boa base teórica, requer muito trabalho prático e interação com outros profissionais. Para a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa Pedagógica, sediado em Paris, considerar que o conhecimento teórico basta pra ensinar as crianças a ler e escrever é uma ideia infundada. "Seria o mesmo que imaginar que se pode aprender a tocar piano lendo tratados de musicologia", compara. Nesta entrevista, concedida com exclusividade à Pátio Educação Infantil, Anne-Marie Chartier fala sobre alfabetização e letramento com a clareza e o conhecimento da realidade nacional que já são familiares a muitos educadores brasileiros, tanto por sua presença em diversos eventos quanto por seus livros publicados. Leia a seguir os principais trechos.
Alfabetização na prática

Alfabetização e letramento são conceitos diferentes?

Tradicionalmente, a alfabetização era definida como a capacidade de decifrar de modo correto um texto, oralizando-o. Não significava necessariamente compreendê-lo: as crianças que sabiam decifrar o Credo ou o Pai-Nosso não precisavam explicar o significado dessas orações. Já os "letrados", que na época eram os clérigos, sabiam ao mesmo tempo ler e explicar esses textos. Quando os ingleses inventam a palavra literacy, que durante muito tempo não teve equivalente nas línguas latinas dos países católicos, eles designam a "cultura primária", os saberes acerca da escrita (a ortografia, a gramática, o cálculo escrito) e, mais tarde, "os saberes de base" (os primeiros elementos de história, de geografia ou de ciências ensinados na escola). Com as avaliações internacionais, como o PISA, foi necessário inventar palavras para designar esses saberes de base: littéracie ou letramento.


Na prática, o que significa o surgimento desse novo conceito?

Toda alfabetização é realizada sobre textos que vão constituir uma primeira cultura escolar. Não é a mesma coisa que ela seja construída sobre textos religiosos ou morais, ou sobre textos instrutivos e informativos, ou ainda sobre pequenas narrativas ou textos divertidos tirados da literatura para crianças. Os saberes ligados à alfabetização sempre ultrapassam a simples decodificação. A grande mudança decorre de que o teste que mostrava que o indivíduo sabia ler, ou seja, que era alfabetizado, era a leitura em voz alta. Com as avaliações modernas, mede-se se o aluno, criança ou adulto, sabe ler no sentido de compreender o que significa o texto, lendo as respostas escritas que ele deu a questões escritas no texto. O que se chama de "saber ler" no segundo caso está ligado ao letramento, não à alfabetização.


Essa distinção é relevante no processo de alfabetização de uma criança?

Em cada época, o processo de alfabetização realiza-se sobre os suportes escolhidos pela instituição. Nos próximos anos, se as competências das crianças forem avaliadas não em papel, mas em telas de computador, o que se chama "saber ler" hoje talvez não seja mais considerado como um "saber ler" suficiente. Essa distinção é importante para definir o que subentende o termo letramento em determinado período. O letramento de hoje não é mais o dos anos 1900, mas talvez pareça arcaico em 2100. Portanto, é fundamental para o professor, que é o responsável pelo ensino, saber claramente qual o desempenho a que deve visar.


Qual é o papel da educação infantil no processo de ensino da leitura e da escrita?

Penso que, na França, as aprendizagens pré-escolares desempenham um papel muito importante: sem a escola maternal, os resultados dos alunos seriam bem mais medíocres. Quando chegam à pré-escola, entre 6 e 7 anos, as crianças já cursaram três anos de escola maternal. Elas sabem segurar um lápis, sabem o que é um exercício, conhecem os rituais de vida de uma sala de aula, aprenderam a se expressar em grupo, ouviram a leitura de livros ilustrados, conhecem refrões, músicas, poesias: tudo isso constitui uma cultura da escrita e dos saberes escolares consideráveis. Quando vejo as classes de alfabetização do Brasil, percebo claramente essa diferença. Nas escolas privadas, as crianças têm o mesmo nível que na França, às vezes até um nível melhor; porém, nas escolas públicas populares que visitei, pude constatar, de modo geral, um a dois anos de defasagem, o que é normal.


O que pode ser considerado importante no desenvolvimento da criança para o aprendizado da leitura e da escrita?

Quando uma criança aprende a ler e a escrever, e essa é a situação mais frequente na escola, pode-se dizer que todos os elementos constitutivos da aprendizagem "funcionaram bem". Quais estão ligados ao desenvolvimento da criança? Quais dependem de fatores externos? É difícil dizer! Há fatores sensoriais (a criança ouve e enxerga bem?), fatores de maturidade psicológica, análise do funcionamento da escrita, capacidades de memória, habilidades gráficas, etc. O que impressiona é que muitas crianças que têm "tudo para fracassar" aprendem, enquanto outras que têm "tudo para vencer" fracassam: é preciso considerar, portanto, que as coisas não são mecânicas e que o papel dos professores também é fundamental.


Quais são as condições favoráveis para que uma criança se alfabetize? E qual é a importância de que as crianças convivam com diferentes portadores de leitura e escrita desde muito pequenas?

As pesquisas mostram que o nível de escolarização dos pais é um dos fatores mais importantes para o êxito escolar das crianças. Contata-se isso hoje com a chegada à França de populações imigrantes analfabetas: as crianças podem muito bem aprender a ler e a escrever, mas os casos de fracasso são numerosos, sem dúvida porque as práticas familiares não podem reforçar as aprendizagens feitas em aula. Quando uma mãe vai às compras no supermercado com os filhos, é diferente se ela compra ervilhas em conserva lendo o que está escrito na embalagem, ou olhando a foto, ou pedindo aos filhos que leiam o que está escrito na embalagem. No primeiro caso, a criança vê como procede uma mãe leitora e procurará imitá-la; no segundo caso, ela aprende que pode "se virar" sem ler e não será tentada a reinvestir o que aprendeu; no terceiro caso, ela vê que a leitura de que é capaz pode ajudar sua mãe analfabeta a não se deixar enganar por uma imagem e será estimulada em suas aprendizagens.


Em que medida o fato de ter alguém que lhes conte histórias e disponibilize o contato com livros de literatura infantil pode contribuir na construção da leitura e da escrita pelas crianças?

Contar histórias para as crianças ajuda a que aprendam a ler, pois nossa escola privilegia esse tipo de texto nos manuais. Se tivéssemos uma escola que privilegiasse um outro tipo de texto, por exemplo, as descrições "científicas", como certos manuais dos anos 1880-1920 na França, os contos continuariam sendo muito valiosos para ajudar as crianças a crescer, mas não serviriam em nada para aprender a ler. As crianças sempre são favorecidas quando já têm uma ideia do que vão encontrar em um texto (é sobre "a vida dos camelos", "Branca de Neve", "um acidente de carro"). Elas antecipam uma "construção geral do texto" que evita que se fixem em cada palavra − e ficariam muito surpresas se os três textos começassem por "era uma vez".


Existe diferença entre ler histórias em um livro e contá-las de memória?

Ler histórias para crianças não é recontar histórias. As releituras habituam a criança a que o texto seja fixo, qualquer que seja o leitor, enquanto uma narrativa oral pode ser sempre a mesma sem que as palavras sejam exatamente iguais. Nesse sentido, as crianças aprendem que um texto não é algo que se adivinhe ou que se invente a partir de uma trama, mas que é uma realidade muito impositiva que exige que cada palavra seja respeitada, o que é um fator bastante tranquilizador, graças justamente a essa estabilidade. Ao mesmo tempo, essa fixidez do texto não impede "interpretações" diferentes na entonação, na acentuação, na dicção, nas ideias que suscita, etc. Por isso, é importante reler em sala de aula textos já conhecidos, como os pais fazem em casa com os filhos.


Atualmente se fala muito de iletrismo, sobretudo na Europa. Como isso se relaciona com os processos de aprendizagem escolares da leitura e da escrita?

O grau de iletrismo de uma população é sempre definido em função das exigências sociais em matéria de leitura-escrita de determinada época. Evidentemente, no século XXI, quando qualquer procedimento administrativo exige preencher formulários, quando para tomar um café você precisa ler as instruções sobre a máquina antes de depositar uma moeda, quando você precisa fornecer um currículo para qualquer emprego, até para ser faxineira, a definição do iletrismo não é mais a mesma! É por isso que as exigências em relação à escola evoluem.


Como esse processo ocorre na prática?

Na França, todo mundo pensava que a escola ensinava de forma suficiente até os anos 1950-1960. Porém, após essa data, considera-se importante prolongar os estudos de todos até os 16 anos e garantir a continuidade do estudo dos filhos. O resultado é que, depois de alguns anos, todo mundo pensa que a escola primária não ensina bem as crianças a ler e escrever. O que poderia parecer um êxito em certo período é considerado como um fracasso quando a escola precisa adaptar-se às novas exigências sociais. Está claro que hoje a alfabetização das novas gerações requer que elas sejam capazes de ler e escrever em computador, de consultar as bases de dados da internet. A definição está mudando mais uma vez. É possível que, em 20 anos, não seja mais com a literatura infanto-juvenil que se ajudará melhor as crianças a entrar na cultura escrita escolar e social.


Durante muitos anos, a discussão mais significativa sobre alfabetizar as crianças era a opção por um determinado método (fonético, palavração, de contos, silábico, etc.). Que rumo tomou essa discussão hoje?

As pessoas continuam discutindo e brigando a esse respeito, mas eu tenho dificuldade de compreender o porquê. Parece-me que isso se deve ao fato de cada discurso privilegiar uma dimensão da aprendizagem e esquecer-se de falar das outras. Todavia, quando se olha de perto a sala de aula, constata-se que todos os professores fazem as crianças trabalhar com múltiplas entradas. Do contrário, elas não aprenderiam a ler! Nenhum professor sensato contenta-se em fazer decodificação de sílaba ou reconhecimento direto de palavras inteiras. Assim, pode-se dizer que todos trabalham utilizando uma via "fônica", mas também "silábica", na decomposição oral das palavras, mas também "global", pois nenhum método de leitura apresenta unidades desprovidas de sentido para começar: vai-se de palavras lidas "globalmente" para sua decomposição, quer se trate de nomes de crianças, de palavras simples escritas sob imagens, etc.


O que, então, caracteriza um bom método de alfabetização?

A meu ver, é o modo como um professor alterna quatro tipos de situações pedagógicas: aquelas em que ele procura fazer com que toda a turma leia para conhecer o sentido de um texto; aquelas que são "situações-problema" para refletir sobre a maneira como "o escrito codifica o oral" ou como "o oral é transcrito"; aquelas que permitem consolidar certas aprendizagens, automatizar aquisições (os exercícios em que em cada criança deve desempenhar-se individualmente); aquelas em que as crianças tentam ler ou reler sozinhas os textos ao seu alcance, sabendo que podem pedir ajuda. Todos os professores visam, no fim das contas, a que as crianças consigam ler "sem esforço", isto é, de forma automática. Para isso, sempre é necessário fazer muitos exercícios de treinamento e um trabalho bastante regular, quase rotineiro. Mas o que ficou muito claro nestes últimos 30 anos foi o seguinte: quando se propõem esses exercícios a crianças que não têm uma "cultura escrita" e não compreendem sua função, isso exige delas um esforço terrível e geralmente em vão. Isso faz com que tomem horror pela leitura. Como dizia Rousseau, falando daquele pequeno aluno do século XVIII, empanzinado de exercícios silábicos inúteis: "De que lhe servirá a leitura depois que o fizerem rejeitá-la para sempre?".


Na sua opinião, qual deve ser a formação de professores com relação à alfabetização?

O conhecimento teórico não é suficiente para saber ensinar as crianças. Seria o mesmo que imaginar que se pode aprender a tocar piano lendo tratados de musicologia. É preciso, portanto, ter uma formação prática. Fazer trabalhar toda uma turma, mobilizá-la, saber utilizar bem um livro, qualquer que seja, guardar na memória o desempenho de cada aluno para adaptar suas exigências, tudo isso requer muito mais tempo, mesmo que se possa ganhar com a convivência com professores experientes. Costuma-se considerar que uma boa formação "acadêmica" tornará os professores mais competentes. Eu sou menos otimista. Penso que o ofício de alfabetização requer uma formação profissional específica, feita de alternância entre trabalho prático, discussão sobre o que se faz, o que se leu, o que as crianças souberam fazer ou não, mas sobretudo de interações com outros profissionais.

Fonte: Revista Pátio online

Entrevista Magda Soares

Ano VI - Nº 20 - Oralidade, alfabetização e letramento - Julho
Capa
Alfabetização e letramento na educação infantil
Magda Soares
Na educação infantil, devem estar presentes tanto atividades de introdução da criança ao sistema alfabético e suas convenções − alfabetização − quanto as práticas de uso social da leitura e da escrita − letramento
O título deste artigo já propõe as duas premissas em que se apoia a argumentação que nele se desenvolverá. Em primeiro lugar, o título é uma afirmação, não uma pergunta: não se propõe uma dúvida - alfabetização e letramento na educação infantil? -, mas afirma-se a presença da alfabetização e do letramento na educação infantil. Em segundo lugar, a conjunção que liga os dois termos - alfabetização, letramento - é uma aditiva, não uma alternativa: alfabetização e letramento, não alfabetização ou letramento, reconhecendo-se, assim, que uma e outro têm, ou devem ter, presença na educação infantil. Cabe inicialmente fundamentar essas duas premissas.

A necessidade de fundamentar a primeira premissa - a afirmação da presença de alfabetização e letramento na educação infantil - justifica-se porque, até muito recentemente, assumia-se que a criança só poderia dar início ao seu processo de aprendizagem da leitura e da escrita em determinada idade e, por conseguinte, em determinado momento de sua educação institucionalizada: entre nós, no Brasil, aos 7 anos, idade de ingresso no primeiro ano do ensino fundamental. Quando havia a possibilidade de educação institucionalizada antes disso, ela ocorria no então denominado, significativamente, "jardim-de-infância", uma metáfora que revela o objetivo que essa etapa perseguia: cuidar das crianças para que crescessem e amadurecessem, como em um jardim se cuida das plantas para que cresçam e cheguem à floração... E nesse "jardim" não deveria haver "letras", porque se considerava prematuro dar às crianças acesso à língua escrita antes dos 7 anos.

No entanto, já no início dos anos 1980, Emilia Ferreiro, em seu livro Reflexões sobre alfabetização (Ferreiro, 1985), criticava o falso pressuposto que subjaz à determinação de idade e série de escolaridade para que a criança tenha acesso à língua escrita: o pressuposto de que os adultos é que decidem quando esse acesso pode ser permitido. Pressuposto falso, porque, nos contextos grafocêntricos em que vivemos, as crianças convivem com a escrita - umas, mais, outras, menos, dependendo da camada social a que pertençam, mas todas convivem - muito antes de chegar ao ensino fundamental e antes mesmo de chegar a instituições de educação infantil. Nessa convivência, elas vão construindo sua alfabetização e seu letramento: seu conceito de língua escrita, das funções do ler e do escrever; seu conhecimento de letras e números; sua diferenciação entre gêneros e portadores de textos - as diferenças entre informações que veem os adultos buscarem em rótulos, as histórias que lhes são lidas em um livro, em uma revista, os bilhetes que as pessoas escrevem ou leem, etc. Além de conceitos e conhecimentos, as crianças também vão construindo, em seu contexto social e familiar, o interesse pela leitura e pela escrita, bem como o desejo de acesso ao mundo da escrita.

Para fundamentar a segunda premissa - alfabetização e letramento têm, ou devem ter, presença na educação infantil - torna-se necessário explicitar o que se entende aqui por alfabetização e por letramento. No campo restrito da aprendizagem inicial da língua escrita, a palavra letramento se tornaria desnecessária se fosse possível impor um sentido ampliado à palavra alfabetização.

É preciso reconhecer que o acesso inicial à língua escrita não se reduz ao aprender a ler e escrever no sentido de aprender a grafar palavras e decodificar palavras - não se reduz à alfabetização no sentido que é atribuído a essa palavra. É parte integrante e principal do acesso ao mundo da escrita, mesmo do acesso inicial a esse mundo, o aprender a fazer uso da leitura e da escrita:

- compreender o que é lido e escrever de forma que os outros compreendam o que se escreve;
- conhecer diferentes gêneros e diferentes portadores de textos e fazer uso deles para ler e para escrever;
- participar adequadamente dos eventos de várias naturezas de que fazem parte a leitura ou a escrita;
- construir familiaridade com o mundo da escrita e adquirir competências básicas de uso da leitura e da escrita;
- desenvolver atitudes positivas em relação à importância e ao valor da escrita na vida social e individual.


Na impossibilidade de determinar que a palavra alfabetização passe a significar não só a aprendizagem do sistema alfabético, mas também a aprendizagem dos usos sociais e culturais desse sistema, é que a "invenção" da palavra letramento tornou-se necessária. Assim, a segunda premissa anunciada no início deste artigo afirma que, na educação infantil, devem estar presentes tanto atividades de introdução da criança ao sistema alfabético e suas convenções - alfabetização - quanto as práticas de uso social da leitura e da escrita - letramento.


Alfabetização na educação infantil

Curiosamente, atividades bastante comuns na educação infantil - os rabiscos, os desenhos, os jogos, as brincadeiras de faz-de-conta - não são consideradas atividades de alfabetização, quando representam, na verdade, a fase inicial da aprendizagem da língua escrita, constituindo, segundo Vygotsky, a pré-história da linguagem escrita: quando atribui a rabiscos e desenhos ou a objetos a função de signos, a criança está descobrindo sistemas de representação, precursores e facilitadores da compreensão do sistema de representação que é a língua escrita.

A vivência de representações semióticas, não propriamente linguísticas, são um primeiro passo em direção à representação da cadeia sonora da fala pela forma gráfica da escrita. Uma lata de sardinha que se torna um signo de representação de um trem é, na interpretação de Vygotsky (1984), uma operação cognitiva precursora e preparatória do mais complexo e abstrato processo de atribuição de signos aos sons da fala, ou seja, do processo de conceitualização da escrita como um sistema de representação.

Essa fase considerada a pré-história da escrita explica por que a criança pequena supõe estar escrevendo quando está desenhando ou quando está fazendo rabiscos e garatujas, nesse caso muitas vezes tentando imitar a escrita cursiva dos adultos, o que já representa um avanço em seu processo de alfabetização - um reconhecimento da natureza arbitrária da escrita. É o primeiro nível, entre os níveis por que passam as crianças em seu processo de conceitualização do sistema alfabético, identificados tão claramente por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (2001): níveis icônico e da garatuja, pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.

Quase todos esses níveis, se não todos, ocorrem, ou podem ocorrer, na educação infantil: lembremos que Ferreiro e Teberosky identificaram os níveis investigando comportamentos de crianças de 4, 5 e 6 anos. Como comprovam inúmeras pesquisas e observações em instituições de educação infantil, as crianças de 4 e 5 anos, com raras exceções, evoluem rapidamente em direção ao nível alfabético se são orientadas e incentivadas por meio de atividades adequadas e sempre de natureza lúdica, característica necessária na educação de crianças pequenas: escrita espontânea, observação da escrita do adulto, familiarização com as letras do alfabeto, contato visual frequente com a escrita de palavras conhecidas, sempre em um ambiente no qual estejam rodeadas de escrita com diferentes funções: calendário, lista de chamada, rotina do dia, rótulos de caixas de material didático, etc.

Mesmo atividades muito presentes na educação infantil, via de regra consideradas apenas por sua natureza lúdica - a repetição de parlendas, a brincadeira com frases e versos trava-línguas, as cantigas de roda, a memorização de poemas -, são passos em direção à alfabetização porque, se forem orientadas nesse sentido, desenvolverão a consciência fonológica, um aspecto fundamental para a compreensão do princípio alfabético: se o sistema alfabético representa os sons da língua, é necessário que a criança torne-se capaz de voltar sua atenção não apenas para o significado do que fala ou ouve, mas também para a cadeia sonora com que se expressa oralmente ou que recebe oralmente de quem com ela fala; que perceba, na frase falada ou ouvida, os sons que delimitam as palavras, em cada palavra, os sons das sílabas que constituem cada palavra, em cada sílaba, os sons e que são feitas.

Várias pesquisas comprovam a correlação entre consciência fonológica e progresso na aprendizagem da leitura e da escrita. Portanto, jogos voltados para o desenvolvimento da consciência fonológica, se realizados sistematicamente na educação infantil, criam condições propícias e, inclusive, necessárias para a apropriação do sistema alfabético.


Letramento na educação infantil

A leitura frequente de histórias para crianças é, sem dúvida, a principal e indispensável atividade de letramento na educação infantil. Se adequadamente desenvolvida, essa atividade conduz a criança, desde muito pequena, a conhecimentos e habilidades fundamentais para a sua plena inserção no mundo da escrita.

Por um lado, esta é uma atividade que leva a criança a se familiarizar com a materialidade do texto escrito: conhecer o objeto livro ou revista, descobrir que as marcas na página - sequências de letras - escondem significados, que textos é que são "para ler", não as ilustrações, que as páginas são folheadas da direita para a esquerda, que os textos são lidos da esquerda para a direita e de cima para baixo, que os livros têm autor, ilustrador, editor, têm capa, lombada... Por outro lado, a leitura de histórias é uma atividade que enriquece o vocabulário da criança e proporciona o desenvolvimento de habilidades de compreensão de textos escritos, de inferência, de avaliação e de estabelecimento de relações entre fatos. Tais habilidades serão transferidas posteriormente para a leitura independente, quando a criança tornar-se apta a realizá-la.

Naturalmente, para que a leitura oral de histórias atinja esses objetivos, não basta que a história seja lida. É necessário que o objeto portador da história seja analisado com as crianças e sejam desenvolvidas estratégias de leitura, tais como: que a leitura seja precedida de perguntas de previsão a partir do título e das ilustrações; que seja propositadamente interrompida, em pontos pré-escolhidos, por perguntas de compreensão e de inferência; que seja acompanhada, ao término, por confronto com as previsões inicialmente feitas, por meio da avaliação de fatos, personagens, seus comportamentos e suas atitudes.

Outros gêneros de textos também devem ser objeto de leitura do adulto para as crianças: textos informativos (que podem ser lidos em busca de conhecimentos que as crianças revelem não ter, mas desejam adquirir), textos injuntivos (que orientam a prática de jogos e os comportamentos), textos publicitários, textos jornalísticos, histórias em quadrinhos, etc. Ou seja, na educação infantil, a criança pode e deve ser introduzida a diferentes gêneros, diferentes portadores de textos. Além disso, pode-se levá-la a identificar o objetivo de cada gênero, o leitor a que se destina, o modo específico de ler cada gênero.

Do mesmo modo, atividades de letramento com a escrita podem e devem ter presença frequente na educação infantil. A todo momento, surgem oportunidades de registrar algo como apoio à memória, de ditar para o adulto uma carta que se quer enviar a alguém, de construir um cartaz sobre um trabalho desenvolvido. Enfim, são inúmeras as situações que podem ser aproveitadas para que as crianças percebam a função da escrita para fins diversos e a utilizem em práticas de interação social.


Integrando alfabetização e letramento

A discussão sobre alfabetização e letramento em dois tópicos, como feito neste artigo, pode suscitar a ideia de que são componentes da introdução da criança no mundo da escrita a serem desenvolvidos separadamente. Contudo, não deve ser assim. Embora as atividades de alfabetização e letramento diferenciem-se tanto em relação às operações cognitivas por elas demandadas quanto em relação aos procedimentos metodológicos e didáticos que as orientam, essas atividades devem desenvolver-se de forma integrada. Caso sejam desenvolvidas de forma dissociada, a criança certamente terá uma visão parcial e, portanto, distorcida do mundo da escrita.

A base será sempre o letramento, já que leitura e escrita são, fundamentalmente, meios de comunicação e interação, enquanto a alfabetização deve ser vista pela criança como instrumento para que possa envolver-se nas práticas e usos da língua escrita. Assim, a história lida pode gerar várias atividades de escrita, como pode provocar uma curiosidade que leve à busca de informações em outras fontes; frases ou palavras da história podem vir a ser objeto de atividades de alfabetização; poemas podem levar à consciência de rimas e aliterações. O essencial é que as crianças estejam imersas em um contexto letrado - o que é uma outra designação para o que também se costuma chamar de ambiente alfabetizador - e que nesse contexto sejam aproveitadas, de maneira planejada e sistemática, todas as oportunidades para dar continuidade aos processos de alfabetização e letramento que elas já vinham vivenciando antes de chegar à instituição de educação infantil.

Magda Soares é doutora em Educação e professora da Faculdade de Educação da UFMG.
mbecker.soares@terra.com.br
REFERÊNCIAS
FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1985. ____.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 2001. VYGOTSKY, L. A pré-história da língua escrita. In: A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
Fonte: revista Pátio online

Planejamento na Alfabetiozação

Planejamento e Avaliação
InteraçõesFundamentos
Edição Especial | 03/2009
Parceiros em ação
Agrupar as crianças é uma estratégia importante na alfabetização, já que a troca de conhecimentos leva à reflexão sobre a escrita e faz todas avançarem

ESCOLHA AS DUPLAS A parceria é produtiva
quando reúne alunos com hipóteses diferentes,
porém próximas, para que haja troca entre eles.
Fotos: Gilvan Barreto
A turma de Ana Cleide Souza parece estar em guerra. Ela tem 25 alunos de 1º ano na EM CAIC Alfredo Coelho de Magalhães, em Canindé, a 126 quilômetros de Fortaleza. As crianças, reunidas em grupos, falam ao mesmo tempo, em alto e bom som. A algazarra é tão grande que a professora da sala em frente fecha a porta. Mas Ana garante: “Não tem briga. Apenas barulho e muito debate. E o tema da conversa de todos é a atividade proposta”. Tudo que os pequenos discutem desse jeito acalorado é sobre ler e escrever, sobre a posição da letra “p” ou o som da letra “m” numa determinada palavra. Não é combate. É alfabetização em grupo.

O uso de atividades coletivas na sala de aula começou a ganhar corpo após a educadora argentina Ana Teberosky publicar no início dos anos 1980 o livro Construção de Escritas Através da Interação Grupal, no qual defende que as crianças não chegam ao 1º ano sem saber nada de leitura e escrita, mas com hipóteses sobre a construção dessa linguagem e que essas hipóteses mudam quando elas interagem em situações de escrita. “O desdobramento disso é que a simples troca de ideias entre elas ajuda a desenvolver a compreensão sobre o funcionamento da escrita”, diz a pedagoga Cristiane Pelissari, formadora do programa Ler e Escrever, da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, e selecionadora do Prêmio Victor Civita – Educador Nora 10. Desde então, a ideia de organizar grupos nas aulas evoluiu bastante, tornando esse tipo de atividade cada vez mais eficiente para a alfabetização.

Mudanças de paradigmas

O trabalho em grupo pressupõe uma verdadeira mudança de paradigma, não apenas para os alunos mas também para os professores, que têm de rever valores. Na abordagem clássica, a interação entre estudantes costuma ser vista como um fator problemático, com impacto negativo sobre a aprendizagem, pois atrapalha a velha fórmula em que apenas o adulto é dono de um conhecimento, que ele deve transmiti-lo e cabe aos alunos recebê-lo. Na nova abordagem, tudo muda. “Não se aprende a ler e escrever com memorização, mas com reflexão sobre a lógica da linguagem, um processo de construção em que a troca é importante”, diz Cristiane.

É preciso construir os chamados agrupamentos produtivos. Os melhores sempre são heterogêneos, pois as diferentes opiniões sobre o sistema de escrita deixam o debate mais rico e as possibilidades de confronto e troca aumentam. Quando o grupo é homogêneo, não há ninguém que desestabilize, e a atividade se torna pouco produtiva. “Na hora de escrever determinada palavra, um aluno pré-silábico pode colocar uma grande quantidade de letras. Se ele está com um colega que também é pré-silábico, fica por isso mesmo. Mas se está com um silábico, esse pode dizer que está errado e falar ‘aqui vai o A ou o E e não precisa mais dessas outras letras’. Essa provocação faz o primeiro rever o aspecto quantitativo, enquanto o segundo reforça o que sabe sobre o sistema de escrita ao ter de explicá-lo”, diz Ana Cleide.

INCENTIVE A REFLEXÃO É importante oferecer sempre espaço para que os estudantes possam refletir sobre o sistema de escrita enquanto escrevem.
Por outro lado, a distância entre o conhecimento dos integrantes do grupo não pode ser muito grande. Muitas vezes, os professores juntam um aluno pré-silábico com um alfabético em busca de um resultado final mais correto. Nesse caso, o mais avançado vai simplesmente se impor e o que ainda não domina o sistema vai continuar onde está, pois as elaborações são muito diferentes. Na alfabetização, o ideal costuma ser agrupar alunos de hipóteses próximas. Alunos pré-silábicos se agrupam com silábicos, e silábicos também podem ir com silábico-alfabéticos, que por sua vez funcionam bem com alfabéticos. “Se o grupo for muito heterogêneo, pode ser que um aluno fique para trás ou algum mais adiantado leve os outros nas costas. Isso tem de ser evitado”, reforça Carolina Monteiro, professora de 1º ano do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.

É preciso planejar o tamanho mais adequado dos grupos de acordo com a atividade, sempre evitando juntar mais de cinco alunos. Quanto maior eles forem, maior a probabilidade de alguém não participar. Para Carolina, o ideal no trabalho de alfabetização são as duplas. NOVA ESCOLA acompanhou o trabalho dela em sala. Na atividade proposta, os alunos tinham feito uma pesquisa sobre sapos, em casa, com a ajuda dos pais. Na classe, cada um apresentou seus resultados, contando o que tinha aprendido. Depois, ela formou duplas. O objetivo era redigir um texto de algumas linhas sobre os bichos. Enquanto um bolava o texto oralmente, o outro deveria escrevê-lo, embora os dois pudessem discutir à vontade tanto o ditado como a forma de redigir.

Gustavo, silábico-alfabético, ditou para Ana Beatriz, alfabética: “A fêmea é maior que o macho”. Ela escreveu o “a”, um espaço e o “f”. Gustavo continuou:
–“M”.

– Não, tem outra letra, senão não faz o som de “fe”.

Gustavo pensou um pouco.

– Coloca um “e”, então.

– Isso, um “e”...

Ana Beatriz completou com “m-i-a, espaço, é”, (“A femia é...”). Gustavo acompanhou e continuou soletrando:

– “m-a”.

– Ainda falta...

Um colega da dupla ao lado soprou:

“i-o-r”. Os dois se olharam, concordaram e seguiram em frente, completando o “do” (“A femia é maior do...”).

– Aí vem “q” com “e”.

– Não, está faltando uma letra – reclamou Ana Beatriz.

– Um “a”?

– Não!

– Então não sei...

– Para mim começa com um “q” e depois tem um “u”...

Gustavo escutou, olhou para o papel e disse: – Mas tem um “e”. Então ele vem depois do “u”.

– Isso! – E Ana escreveu “q-u-e”.

Gustavo então soletrou:

– “O, espaço, m-a-x-o”.

– Terminou.

No trabalho da dupla houve a intervenção de um integrante de outra, mas a “conversa paralela” foi voltada para a atividade. E os dois discutiram a construção da frase, letra por letra, cada qual com seu conjunto de ideias, assimilando e opondo a opinião do outro de acordo com a própria para produzir um resultado. Vale observar que o objetivo, como dito antes, não é chegar à frase “correta” do ponto de vista ortográfico, mas promover a reflexão sobre como escrever. “O importante é colocar a interação a serviço da reflexão. Não só a serviço do resultado”, diz Cristiane.

“O momento mais difícil costuma ser em agosto, quando já há muitos alfabéticos, que passam a cantar as respostas para os outros, que por sua vez não gozam seu momento de aprendizagem”, afirma Ana Cleide. E aqui entra uma tarefa muito importante : planejar também atividades diferenciadas para os não-alfabéticos e para os alfabéticos, que precisam avançar e aprender ortografia, por exemplo. As atividades em grupo podem dar a falsa impressão de que o professor terá mais tempo livre, mas, quando todos os paradigmas mudam, pode ser que o trabalho seja mais difícil, principalmente no começo, quando ainda é preciso se adaptar. Você talvez fale menos, mas vai precisar planejar exaustivamente cada atividade e cada agrupamento. A estrutura das aulas deixa de ser construída em cima de seu próprio conhecimento para ser baseada no que os alunos sabem. Isso requer uma avaliação constante e específica de cada um. Por isso, a chave é falar menos e observar mais, prestar atenção na conversa dos estudantes e tomar nota de comportamentos e percepções que serão importantes para reorganizar os grupos se necessário.

Troca de papel

PLANEJE A ATIVIDADE O trabalho em grupo é
produtivo quando as crianças têm autonomia
e não precisam da direção constante do professor
Foto: Gilvan Barreto
Uma das maiores dificuldades do alfabetizador é a forma de intervir, quando sua participação é solicitada durante uma atividade. “Os alunos aprendem em interação, o que não quer dizer que a intervenção do professor não seja importante”, explica Cristiane. O educador não deve sonegar informação, nem entregá-la de mão beijada. Mas, como os grupos são heterogêneos entre eles e dentro deles mesmos, encontrar o ponto certo em cada situação para garantir que todos participem e possam raciocinar com base na colaboração do professor é uma verdadeira arte. A intervenção do professor não visa ensinar um produto – por exemplo, necessariamente soletrando a resposta. O que se quer é levar o aluno a avançar nas ideias de forma que ele possa integrar as novas informações. E, como os professores costumam estar muito ligados ao resultado, mudar a abordagem em relação a isso é um desafio especial no trabalho.

É importante entender quando a interação aluno/aluno pode ser mais produtiva que a interação professor/aluno. Enquanto a condução do professor representa uma autoridade, entre si os alunos dialogam de igual para igual. “Se eu digo que alguém está errado, ele bloqueia e não escreve mais. Porém, quando vem do colega, o confronto o faz repensar suas hipóteses”, diz Ana Cleide.

Vencidos os desafios, as vantagens do trabalho em grupo aparecem no fim do ano. A turma de Ana Cleide chegou a dezembro com 100% de alfabetizados. A turma de Carolina começou com oito pré-silábicos, dois silábicos, sete silábico-alfabéticos e sete alfabéticos e terminou 2008 com apenas um silábico, um silábico-alfabético e 22 alfabetizados.

O trabalho em grupo ainda desenvolve a socialização e o espírito de cooperação. “Isso é uma lição que as crianças carregam para a vida toda, dentro e fora de sala”, ensina Carolina.

Fonte: revista Nova Escola online

Método Fônico Avança

Método fônico avança na alfabetização

Hélio Schwartsman

Sem alarde, sistema que associa letras a sons ganha espaço no Brasil; em países desenvolvidos, houve embate contra construtivistas. No país, polêmica sobre escolha do método durou só dois meses, quando o MEC disse em 2006 que poderia priorizar um dos sistemas.
Nos EUA, elas ficaram conhecidas como Reading Wars" (guerras de alfabetização). Foi uma disputa encarniçada e com fortes tintas ideológicas, que chegou a ser comparada à polêmica em torno do aborto.

De um lado, estavam os defensores dos métodos fônicos, que enfatizam a necessidade de ensinar a criança a associar grafemas (letras) a fonemas (sons). Do outro, perfilavam-se os construtivistas, para quem o aprendizado da leitura deve ser um ato tão "natural" quanto possível, a ser exercido com textos originais e não com obras artificiais como cartilhas.

No Brasil, a coisa lembra mais a não havida Batalha de Itararé: o que prometia ser o mais sangrento conflito pedagógico do país acabou não acontecendo, e a controvérsia agora caminha para decidir-se sem traumas maiores, com os métodos fônicos ganhando espaço pelas bordas do sistema.

"Os construtivistas não gostam muito, mas a questão [dos métodos] vem se resolvendo de forma pouco explícita", declarou à Folha o ministro da Educação, Fernando Haddad.

Na mesma toada vai o professor de psicologia da USP Fernando Capovilla. "Sem muito alarde, as coisas estão mudando. E é bom que seja assim. A ciência demonstrou que o fônico é mais eficaz, especialmente para os mais pobres".

Nos países desenvolvidos, a polêmica remonta aos anos 50, atingiu seu ápice no final dos 90 e de algum modo se resolveu a partir dos 2000, depois que os governos dos EUA, da França e do Reino Unido, com base em vários estudos comparativos, recomendaram o ensino dos elementos fônicos no processo de alfabetização.

No Brasil, o "confronto final" foi evitado. Em fevereiro de 2006, Haddad propôs o debate, sugerindo a revisão dos PCNs (parâmetros curriculares nacionais) da educação básica.

Os fonetistas viram aí a oportunidade de lançar o que seria o golpe de misericórdia contra o método global. Os construtivistas, por seu turno, valendo-se da privilegiada posição de linha pedagógica predominante na maioria das escolas públicas e privadas do país, prometiam resistir por todos os meios.

Silvia Colello, professora de pedagogia da USP, é uma das que se opõem aos métodos fônicos. Para ela, quando o professor adota esses programas "cartilhescos" e enfatiza o domínio do código escrito, ele "tira da língua o que ela tem de mais precioso". O aluno, diz, não se reconhece nesse artificialismo e se desinteressa.

Percebendo que o debate estava a gerar mais calor do que luz, dois meses depois, em abril, Haddad anunciou que o ministério desistira de recomendar um método oficial.

"Levei tanta pancada, inclusive da Folha", disse o ministro. "Mas acho que serviu para preparar o terreno. Hoje há mais clima para discutir essas questões", acrescentou.

A relativa indefinição favoreceu posições mais conciliatórias, como a de Magda Soares, professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG.

Para ela, o construtivismo teve o inegável mérito de colocar a criança como sujeito ativo no processo de aprendizagem, mas, no caso da alfabetização, acabou se tornando uma teoria sem método que substituiu o método sem teoria das cartilhas do século passado.

Soares, que prepara um livro sobre o assunto, diz que existe "produção riquíssima" lá fora demonstrando a necessidade de trabalhar com elementos fônicos. Para ela, o ponto-chave para o sucesso na alfabetização é a "formação dos formadores".

Experiência no molde defendido por Soares está em curso em Lagoa Santa (região metropolitana de Belo Horizonte).

Ali a pedagoga Juliana Storino coordena um programa que, sem esquecer pressupostos construtivistas, como a adequação do currículo à realidade do aluno, busca desde cedo despertar a consciência fonológica dos alunos. "Apesar de já operarmos há três anos, ainda encontramos resistências por parte de professores."

''Trocadilhos'' deram origem a alfabeto

Como o arco e a flecha, a escrita é uma tecnologia que foi inventada mais de uma vez. Os dois primeiros sistemas de que se tem notícia, o hieroglífico egípcio, que parece ter surgido por volta de 3100 a.C., e o cuneiforme sumério, mais ou menos de 3300 a.C., mas cujos sinais precursores remontam a 8000 a.C., partiram de uma representação ideográfica do que se desejava representar. Isso significa que o hieróglifo egípcio correspondente a um touro significa mesmo "touro".
De forma já um pouco mais sofisticada, o desenho de uma orelha de vaca significa "ouvir". Num grau ainda maior de elaboração, os antigos egípcios passaram a valer-se também de trocadilhos, vá lá, infames. Feitas as adaptações para o português, o desenho de um rei, seguido do de uma casa e do de uma rainha significaria "o rei [se] casa com a rainha".
Esse é o truque que, numa evolução posterior, resultará na escrita alfabética. As representações ideográficas cedem lugar a novas formas em que os sinais já não se referem às coisas, mas a sons da língua falada. Com isso, pode-se registrar virtualmente tudo, inclusive nomes próprios e ideias abstratas, que antes representavam um obstáculo difícil de contornar.
O alfabeto, mais ou menos como nós o conhecemos, em que as letras correspondem apenas a sons, surge no segundo milênio antes de Cristo. Ao que tudo indica, foram os fenícios, com o alfabeto proto-sinaítico, que radicalizam o que já se insinuava nas escritas suméria e egípcia e passam a fazer com que cada sinal corresponda a um som da língua, decompondo-a em elementos mínimos. A partir disso, surgem quase todos demais alfabetos.


Cérebro não se adaptou à escrita, o que dificulta a aprendizagem

Alfabetizar uma pessoa é difícil porque nossos cérebros ainda não tiveram tempo de adaptar-se à escrita, uma conquista relativamente recente.
A comparação cabível é com a aquisição da linguagem. Para uma criança aprender um idioma, é só atirá-la numa comunidade onde se fale a língua em questão. Em pouco tempo ela estará proficiente e corrigindo seus pais, se eles não forem falantes nativos. Não há necessidade de instrução formal.
Essa foi uma das razões que levou o linguista Noam Chomsky a postular a hipótese, hoje bem aceita, de que nossos cérebros já vêm de fábrica com um órgão da linguagem.
Com a escrita é bem diferente. As mais recentes evidências colhidas pela psicolinguística mostram que a alfabetização não vem "naturalmente". Isso contraria pressupostos dos métodos construtivista, nos quais se apresentam ao aluno palavras inteiras esperando que ele decomponha o código e deduza os elementos que o constituem.


Brasil ainda tem alto número de analfabetos

Embora o Brasil registre melhora nos índices, os patamares estão longe dos de países ricos. E o problema não é apenas o estoque de pessoas mais velhas que não aprenderam a ler -12,4% entre os com mais de 25 anos. Entre crianças com nove anos e que estão na escola, o índice de analfabetismo absoluto é de 7%. O analfabetismo é exclusivo de famílias com renda de até 2 salários mínimos per capita e ocorre muito mais no Nordeste (15%) que no Sul (2%).

Folha de S.Paulo, 27 out. 2009.

ONU pede maior compromisso na luta contra o anlfabetismo

08/09/2009 - 20h44
Ban pede maior compromisso na luta contra o analfabetismo

da Efe
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, pediu nesta terça-feira um maior compromisso da comunidade internacional na luta para reduzir o que chamou de "assombroso" número de pessoas que não sabem ler e escrever no mundo.
Em mensagem por ocasião do Dia Internacional da Alfabetização, o secretário-geral das Nações Unidas destacou que cerca de 776 milhões de adultos, na maioria mulheres, não possuem conhecimentos básicos de escrita, leitura e matemática.
Além disso, cerca de 75 milhões de menores não estão escolarizados e os que conseguem obter uma educação, particularmente no mundo em desenvolvimento, devem frequentemente abandoná-la.
"Em um mundo com riqueza abundante, no qual a educação e o conhecimento são passaporte para viver melhor, o alcance do analfabetismo é assombroso", apontou.
Ao apelo de Ban se uniu o diretor-geral da Unesco (organização da ONU para a educação, ciência e cultura), Koichiro Matsuura, que alertou nesta terça-feira que 75 milhões de crianças seguem excluídas do sistema escolar.
Segundo Matsuura, existe uma forte correlação entre pobreza e analfabetismo e isso é fundamental para resolver esse problema.
Por isso, fez uma chamada a Governos, organismos intergovernamentais, empresários, sindicatos e outros representantes da sociedade para que "não abandonem mais a alfabetização da juventude e dos adultos".
O Dia Internacional da Alfabetização é lembrado a cada 8 de setembro desde 1966, um ano depois de instituída a Unesco.

Brasil tem o maior n° de analfabetos

09/09/2009 - 03h00
Brasil é o país com maior número absoluto de analfabetos na América Latina
da Efe
No Dia Internacional da Alfabetização (8), o Brasil aparece como o país com o maior número de analfabetos na América Latina, apesar de alguns progressos, segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
No total, 14,1 milhões de brasileiros, o que equivale a 10,5% da população maior de 15 anos, não sabem ler nem escrever. No mundo, são 776 milhões de adultos nesta situação.
Na última década, o Brasil reduziu essa taxa em cinco pontos percentuais. Porém, em números absolutos, essa diminuição significa a alfabetização de apenas dois milhões de pessoas.
Em 2003, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou um programa para promover a alfabetização da população adulta centrado em municípios com taxas de analfabetismo superiores a 25%. A maioria deles fica na região Nordeste.
De acordo com os dados cedidos pelos governos latino-americanos e reunidos pela Unesco, a América Latina tem 25 milhões de analfabetos, principalmente no Brasil e México, os países mais populosos.
Por outro lado, há nações que avançaram bastante no tema. Hoje, o Equador foi o sexto país latino-americano a anunciar que está livre do analfabetismo. Os outros são Argentina, Cuba, Venezuela, Nicarágua e Bolívia.
Com a exceção da Argentina, todos esses países conseguiram tal feito por meio da aplicação do reconhecido método cubano "Sim, eu posso" com a ajuda financeira de Caracas.
O programa teve sua efetividade reconhecida pela Unesco e já alfabetizou, de acordo com números oficiais cubanos, 3,1 milhões de pessoas em 28 países.
Além disso, nações como Paraguai, Costa Rica e Chile têm feito constantes progressos em termos de alfabetização e estão próximos de serem considerados como livres do analfabetismo.
Os países que apresentam taxas de analfabetismo abaixo de 4% da população adulta são considerados como livres do problema.
O Dia Internacional da Alfabetização é lembrado a cada 8 de setembro desde 1966, um ano depois de instituída a Unesco.

Mudança de estratégias

12/07/2009 - 11h05
Cidades brasileiras mudam estratégias de alfabetização

da Folha de S.Paulo, no Rio
Logo que assumiu, na escola municipal Azevedo Sodré (zona norte do Rio), a responsabilidade de acelerar a alfabetização de 20 alunos com dificuldades, a professora Consuelo Baduê pediu que eles escrevessem bilhetes no mural com seus compromissos.
Uma das alunas da turma, de 10 anos, escreveu assim sua promessa: "Não xigrar as professoras e não jogra lixo no xão". Os bilhetes continuam pendurados no mural, mas os alunos, aos poucos, já começam a identificar os erros.
"Outro dia, esta aluna me chamou a atenção, dizendo que tinha percebido que escrevera chão com xis", conta ela.
A novidade neste ano na rede municipal do Rio foi a aplicação, no início do ano letivo, de um teste para identificar os alunos com necessidade de reforço urgente na alfabetização.
Em cada escola, eles estão sendo agrupados em turmas menores e passaram a utilizar metodologia do Instituto Ayrton Senna, que capacitou os professores para trabalhar com seu material didático.
Consuelo conta que uma das vantagens da metodologia é que os alunos passaram a ter uma rotina fixa de trabalho. "Se eu deixo de dar uma atividade, eles me cobram", diz.
Ainda não foram feitas avaliações externas na turma para verificar se houve melhorias. O que as mães mais têm verificado é o aumento do interesse pela leitura. "Percebi que meu filho passou a ler mais", diz Rosenilda Oliveira, mãe de Jeferson, 9. Mesmo relato fez Aline Azevedo, mãe de Ana Carolina, 9. "Todo dia ela leva um livro para casa e faz os deveres."
Estratégias
Outras redes que já elaboraram seus diagnósticos a partir de avaliações próprias ou da Provinha Brasil também tiveram que reforçar as ações de alfabetização de crianças.
No Distrito Federal, por exemplo, a decisão foi dobrar o número de centros de referências de alfabetização, escolas-modelo que criam uma equipe própria para ajudar outras unidades a melhorar seus indicadores. "Cada equipe é responsável por ajudar de sete a oito escolas", diz Fábio Pereira, gerente de ensino fundamental.
Em Belo Horizonte, Sérgio Eustáquio da Silva, da gerência de avaliação e políticas educacionais, diz que a estratégia foi aumentar o quadro docente.

Crianças que não frequentam escola

13/06/2009 - 11h40
MEC quer identificar onde estão as 680 mil crianças que não frequentam a escola
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da Agência Brasil
Atualizado às 13h19.
O MEC (Ministério da Educação) quer descobrir quem são e onde vivem as 680 mil crianças que estão fora da escola em todo o país. Nesta semana, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) divulgou relatório que destaca as dificuldades de algumas populações no acesso à educação e na permanência na escola. Crianças indígenas, moradoras do campo, quilombolas, negras e com deficiência física são as mais afetadas.
De acordo com o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, André Lázaro, uma equipe de estatísticos já conseguiu identificar 95 mil das 680 mil crianças a partir do cruzamento de diversos bancos de dados. O trabalho começou pela Região Norte, apontada pelo Unicef como uma das mais problemáticas. Regiões como o Semiárido também serão foco da ação.
O ministério entrou em contato com 55 municípios para detectar o motivo pelo qual essas crianças não estão na escola, seja falta de acesso ou evasão. O mapeamento mostra diferentes realidades. "Em alguns lugares o problema é de ônibus escolar, em outros de barco escolar e até de búfalo, porque em Marajó, nem ônibus nem barco resolvem. Em outras [regiões] é preciso construir escolas ou adaptar o calendário escolar aos fluxos migratórios de uma população que se desloca em tempos de colheita, por exemplo", contou o secretário.
O relatório do Unicef aponta que "as desigualdades presentes na sociedade ainda têm um importante reflexo no ensino brasileiro". Segundo o fundo, as populações mais vulneráveis são as mais privadas do direito de aprender. Para Lázaro, essa análise ajuda a focar um problema que é invisível para a sociedade.
"O Unicef coloca no centro do debate a questão da equidade e das desigualdades na educação. Para nós isso é muito bom, é um estímulo para a sociedade enxergar aquilo que não está visível."
A Secad (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade) foi criada em 2004 justamente com a função de trabalhar a questão das desigualdades. Na avaliação de Lázaro, historicamente as políticas educacionais não foram fortes o bastante para enxergar as especificidades "desse público socialmente mais fragilizado".
"Para eles, você tem que dar o que todos têm e mais um pouco, porque o ponto de partida desses públicos é inferior. Por isso o MEC tem muita clareza da necessidade de ações afirmativas, que não se reduzem a cotas. Ação afirmativa é também você reconhecer que a população indígena e a quilombola têm que ter um adicional de merenda para combater as dificuldades de acesso", exemplificou.
Como cada uma dessas populações têm características distintas, não há uma fórmula específica para trabalhar a diversidade na educação, explica Lázaro.
"São situações muito complexa e distintas. Uma situação é a população das periferias nos grandes centros urbanos, outra é o atendimento adequando à população do campo. Também há a singularidade dos grupos indígenas e o atendimento aos quilombolas. Não há um único fator", disse.
Mas, para o secretário, o fato de 97,6% das crianças estarem na escola deve ser comemorado. "O desafio agora é que todos permaneçam na escola e aprendam. A escola ainda não está conseguindo garantir a todos o direito de aprender. E, quando você olha quem não aprende, são sempre os pobres, os negros. Portanto a escola precisa dar mais um passo para que não seja um lugar a mais que reproduza a desigualdade."
28/09/2009 - 07h34
Gasto de R$ 2 bilhões reduz pouco o analfabetismo no país
da Folha Online
Lançado seis anos atrás com a meta de erradicar o analfabetismo no país, o programa Brasil Alfabetizado já consumiu mais de R$ 2 bilhões até este ano, mas o índice de brasileiros que não sabem ler nem escrever um bilhete simples caiu apenas 13% entre 2004 e 2008, segundo reportagem de Marta Salomon, publicada nesta segunda-feira na Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).
Meta de redução do analfabetismo pode não ser alcançada
IBGE aponta queda de apenas 0,1% no analfabetismo entre 2007 e 2008
Brasil é o país com maior número absoluto de analfabetos na América Latina
Segundo o texto, ainda há mais de 14 milhões de jovens e adultos analfabetos --o equivalente a um a cada dez brasileiros com 15 anos ou mais. "Não vou brigar com os números", reagiu André Lázaro, secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação: "A queda do analfabetismo não é proporcional ao nosso esforço", completou.
No ritmo de queda registrado desde o início do programa, o Brasil ainda vai demorar pelo menos o dobro do tempo --oito anos-- para tirar do papel o compromisso de Dakar. "A [atual] taxa não é o que queríamos, mas vamos cumprir a meta", insiste Lázaro, com o aval do ministro Fernando Haddad.
Estados
O combate ao analfabetismo foi bastante desigual no Brasil. E o percentual de jovens e adultos que não sabem ler nem escrever aumentou em 2008 no Distrito Federal e em mais 11 Estados --entre eles São Paulo--, mostra o detalhamento dos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), tabulados pelo Ministério da Educação.
Embora tenha a segunda menor taxa de analfabetismo do país, o Distrito Federal registrou o maior aumento percentual (8%), número que surpreendeu o governo local. Já em São Paulo, a taxa aumentou 3% entre 2007 e 2008.
A Bahia é o Estado que reúne o maior número de jovens e adultos analfabetos (1,8 milhão de pessoas). Em proporção da população dos Estados, o ranking do analfabetismo é liderado por Alagoas, Piauí e Paraíba, todos com mais de 20% da população acima de 15 anos analfabeta.
Arte


Arte
27/10/2009 - 16h32
Paulo Freire desenvolveu novo conceito de leitura e escrita; leia trecho
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da Folha Online
"Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação", diz o professor e vice-presidente da TV Cultura Fernando José de Almeida, em seu recente livro "Folha Explica: Paulo Freire".
Lançamento de "Paulo Freire" ocorre nesta quarta (28), em SP
Divulgação


"Folha Explica" analisa a vida e a obra do educador Paulo Freire

De forma clara e objetiva, o título analisa a vida e a obra desse que é um dos maiores educadores do Brasil, mostra uma reflexão sobre a "pedagogia do oprimido", criada por Freire, e deixa clara a importância mundial de seus projetos político-pedagógicos.
Também destina um capítulo especial com cronologia e as principais obras do educador --que tem obras traduzidas para mais de 20 línguas.
Conheça, no trecho abaixo, os pensamentos de Paulo Freire e seu programa de alfabetização que marcou as quatro últimas décadas do século 20, e que interferiu no mundo da educação em todos os continentes.
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Ler o mundo para se libertar
O método criado por Paulo Freire para alfabetização de adultos foi, sem dúvida, sua maior contribuição à educação. Não apenas pela capacidade de alfabetizar em 40 horas. Seu sucesso está marcado pelo fato de ter desenvolvido um novo conceito de leitura - e com ele um novo conceito de escrita. Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é antes de tudo uma interpretação do mundo em que se vive. Mas não só ler. É também representá-lo pela linguagem escrita. Falar sobre ele, interpretá-lo, escrevê-lo. Ler e escrever, dentro desta perspectiva, é também libertar-se. Leitura e escrita como prática de liberdade.
A escrita é também objeto do pensamento e da vida. O mundo ao sul da linha do Equador é marcado pela oralidade; aqui, a escrita e a leitura são um distintivo de poder. Portanto, a criação de uma política de desenvolvimento de participação do mundo da leitura e da escrita significa redimir as massas excluídas de 500 anos de história. A leitura do mundo antecede a leitura das letras. A leitura assim é um fato político cultural de participação. Desse ponto de vista, um adulto ler frases como "vovó viu a uva" deixou de ser um fato educacional pacífico e virou um absurdo político, já que a frase não tem nenhum significado para o adulto que se alfabetiza. É um desrespeito a ele e o esvazia de sua dimensão cidadã.
Há 60 anos10, havia ainda 50% de analfabetos no país - por absoluta opção política. Dirigentes, classes médias e baixas, clero, latifundiários e minifundiários, políticos, todos achavam que os analfabetos eram uma espécie de praga, uma mancha na cultura nacional. Mais uma vez, a vítima era a culpada. Alguns viam os analfabetos como uma espécie que nasce por acaso e faz parte de um sistema ecológico de equilíbrio social. De lá para cá, houve progresso.
Em 2008, o estado de São Paulo chega ao menor número relativo de analfabetos na sua história: 4%. Pela primeira vez na história, o número de analfabetos maiores de 15 anos começa a diminuir a partir de 2002, chegando a 10 milhões em todo o país. Isso acontece pelo simples fato de que não geramos novos analfabetos, pois todas as crianças estão na escola. Mas o estoque de analfabetos se mantém e este número só abaixará pela morte deles!
Não acabamos ainda com o analfabetismo, embora estejamos acabando com os analfabetos. Todo o trabalho de Paulo Freire, todos os anos de exílio, todos os festejos na sua volta, não ajudaram o país a fazer a lição: dar direito à leitura e à escrita a seus cidadãos. Todos.
Elementos do seu método
O método construído por Paulo Freire a partir de sua prática pedagógica, em articulação com os carentes sociais e culturais de seu estado de Pernambuco, gerou um programa de alfabetização que marcou as quatro últimas décadas do século 20. Pode-se dizer que esse método interferiu no mundo da educação em todos os continentes. Partindo de "temas geradores", o método propiciava uma reflexão do alfabetizando sobre os seus próprios problemas - o que gerava a necessidade de posicionar-se sobre tais questões e de expressá-las em formas próprias de comunicação. Com o método de Freire, os adultos não se sentiam alheios aos temas de sua escrita e a leitura virava um aprofundamento do que já vinham vivendo, em suas experiências como trabalhadores e cidadãos.
Se os temas geradores fossem, digamos, terra, latifúndio, favela, enxada, foice, casa, eram essas as palavras a serem lidas e escritas, com seus significados debatidos. Toda a gama de desmembramento de outras palavras era oriunda dessas sílabas componentes das palavras--temas. FA-VE-LA pode gerar: ve-la, fa-la, la-ve, lu-va, fa-va etc., assim como outras inúmeras composições com seus diversos grupos silábicos, num imenso repertório de possibilidades. Com isso, os jovens ou adultos constroem palavras nascidas de seu repertório "gerador"; e sendo elas debatidas, escritas e faladas, podem transformar as suas realidades pela práxis.
Os problemas de alfabetização não pararam aí: da perspectiva do método, o desafio contemporâneo é continuar a construir, com os leitores-aprendizes, a problematização sobre os temas geradores em cada nova realidade - como no mundo digital, especialmente. Tornado realidade pela reorganização do capitalismo volátil, o mundo digital deve ser também objeto de um novo processo da alfabetização. O mundo digital em nada é menos opressor ou menos desumanizador que o mundo do latifúndio ou da favela. São desafios mais sutis e mais encobertos em aparências de globalização democrática.
Como Paulo Freire pode ser chamado para ajudar a desenhar um método de alfabetização crítico-digital? Para estar neste mundo e poder participar de suas potencialidades é preciso dominá-lo. Este domínio não se dará pelo controle simples de seus manuais de instrução ou pela manipulação de seus teclados e softwares - "caminhar sobre as letras", como dizia Freire. Tal participação demanda um aguçamento do senso crítico, acompanhando a discussão de seus problemas e de suas perspectivas. Este domínio se desenvolve também com a compreensão de seus instrumentais: navegar na internet, trabalhar com um processador para escrever um texto, poder enviar uma mensagem para o outro lado da cidade ou do mundo, criar uma agência de notícias ou editar jornais comunitários, divulgar seu currículo na rede: tudo isso pode ser um caminho freireano de uso crítico e político.
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24/09/2009 - 11h04
Surdos querem escola própria para alfabetização adequada
RACHEL BOTELHO
da Folha de S.Paulo
Para estimular os surdos a assumir sua condição e para combater a discriminação, surgiu nos Estados Unidos, no começo da década de 1990, um movimento conhecido como Orgulho Surdo. Os integrantes -principalmente pessoas que falam línguas de sinais, frequentam escolas para surdos, são parentes ou intérpretes- defendem que a surdez seja encarada como uma experiência diferente, não como deficiência.
Pais de filhos com deficiência tentam driblar superproteção
Negar deficiência de filho prejudica desenvolvimento
"Tive que me virar", diz jornalista que teve paralisia infantil
No Brasil, embora o movimento não exista oficialmente, escolas e associações de surdos reivindicam o direito de essas pessoas serem alfabetizadas primeiro em Libras (Língua Brasileira de Sinais) e depois em português.
"Somente assim podemos ter pleno entendimento de um mundo que não ouvimos", afirma Paullo Vieira, presidente da Associação dos Surdos de São Paulo.
No próximo sábado, dia 26, às 12h, uma passeata sairá do Masp, em São Paulo, para divulgar as reivindicações da comunidade, como o direito de optar por uma escola para surdos. "Ainda não estamos preparados para que a inclusão seja imposta na parte educacional", diz Vieira. Na data, comemora-se o Dia do Surdo.
Colaborou FERNANDA BASSETTE, da Reportagem Local